Conjugations é um encontro do Oruã / Romã com o Kartas, foi gravado no INteliê no dia 11 de fevereiro de 2019 por Marcela, Zozio, Lê, João, Phill e David em Piraí, interior do Rio de Janeiro.


Por Marcela (mm)
Nesse dia, em que gravei com o Oruã.
Não me preparei para a chegada da banda, estava imersa em questões de família. Havia dois dias que tinha chegado de Miraí-MG, onde moram meus pais. Estava me preparando para a cirurgia do meu pai, na válvula do coração. Fiquei sabendo, ou entendi, com um ou dois dias de antecedência, que eles estariam aqui para uma gravação, que aconteceria no mesmo dia da cirurgia. Deixei fluir, sem saber exatamente da minha participação. Eu ainda me familiarizava com as produções musicais e não sabia muito bem como colocar tecnicamente minha voz junto aos instrumentos numa sessão ao vivo. Minha experiência com esse universo sempre foi livre e sensorial, com pesquisas envolvendo corpo e performance.
Já tinha experiência com o KARTAS, mas trabalhando uma fórmula muito própria de criar. Quando chegaram aqui em casa, lembro da cozinha abastecida de comida mineira e me senti muito bem em comer e conversar com os meninos do Oruã, da Transfusão. Me identifico com todos, gosto da forma simples, direta e sincera que nosso envolvimento se dá. Lembro que Lê passara pela perda do pai há um ano. E eu, naquele dia, vivia um sentimento novo, percebendo meu pai no risco de vida, entrando na cirurgia no mesmo momento da gravação. Foi assim que a experiência se deu. Os microfones estavam espalhados, de um forma criativa, eu tentando me sintonizar com toda aquela organização e as energias musicais que se propunham a experimentar, no fazer empírico. Nos deixamos levar. Peguei meu bloquinho de notas, onde anoto sentimentos, raciocínios e metáforas, fui falando as palavras, buscando sentí-las e muitas delas, a maioria, nunca havia lido em voz alta, estava descobrindo os sons e combinações, no momento em que se concretizava o trabalho da gravação. Foi uma experiência intrigante, desafiante e marcante, nos conectamos para eternizar esse disco, como a história desse dia, nesse diA.


Por Lê
Nos meses que antecederam essa gravação, a gente fazia intensas tours de carro com o Oruã e em todas as vezes que passávamos por Piraí eu combinava de parar pela casa do Zozio e da Marcela, mas isso nunca rolava, as viagens sempre eram um pouco corridas. Nessa viagem especifica pra São Paulo em fevereiro de 2019 o carro do Vini que sempre usávamos emprestado estava com a documentação atrasada e em cima da hora de viajar eu optei por trocar pelo carro do meu pai, sabendo que ele era mais velho e nunca tinha feito uma viagem desse porte e totalmente cheio.
Nós chegamos em cima da hora de tocar, recebemos uma multa por parar em lugar indevido, mas embora isso tudo correu bem. Em todas as viagens que fazíamos sempre viajava alguns amigos além de nós 3 na época, nessa viagem foi o David e o Bigú, lá em SP o Bigú ficou e trouxemos a Laura na volta. Chegamos num domingo a noite em Piraí e na segunda de manhã começamos a montar um esquema totalmente diferente de gravação do que costumávamos fazer, ao invés de gravarmos os instrumentos, gravamos o som da sala, posicionando os mics em lugares específicos.
Curtimos um dia inteiro de improvisos, combinações de temas, banhos de piscina e muita troca de idéia. Marcela e Zozio tocam o Kartas, me identifico muito não só musicalmente como artisticamente e na amizade. Durante esse dia o pai da Marcela iria fazer uma cirurgia e o meu faria um ano de morto dali um pouco mais de um mês, as nossas energias harmonizavam em algum lugar. Passei um pouco mais que um ano mixando essas gravações, ouvindo, re ouvindo e mostrando a amigos, agora ela tem uma forma, agora nosso mundo já é outro.



Fé em deus